segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

DO BARROCO À MÚSICA CONTEMPORÂNEA II



PERÍODO CLÁSSICO


O período Clássico (1750 - 1820) se inicia em uma conjuntura histórica na qual os pensamentos e ideais da sociedade, mormente a européia, estavam sofrendo intensas mudanças. A objetividade, o apego ao formalismo e o pragmatismo são apanágios dessa época. Na filosofia, na literatura, na sociologia, na matemática, na economia e nas artes em geral, o processo cognitivo passou a ser sempre o racional. Obras filosóficas como a "Crítica da Razão Pura" (1781), de Immanuel Kant, influenciavam todas as ciências. Não é escorreito afirmar que Mozart era leitor assíduo da produção filosófica de Kant ou de outro pensador do Classicismo, mas de certo é válido dizer que muitas dessas características são encontradas nas peças de Haydn, Beethoven (fase clássica) e outros. O contraponto barroco, com suas complexas regras de manipulação de vozes passou a dar lugar a uma harmonia homofônica, mais vertical e simplificada. Apesar da "revolução" conceitual e prática instaurada pela música de Beethoven em sede de Harmonia, o período Clássico da música não revela tanta inovação nesta área. A maior preocupação dos compositores da época era explorar as combinações timbrísticas dos instrumentos, dando total atenção à proporcionalidade entre intenção/motivo composicional e expressão/impressão real da peça musical. O período compreende a formação da concepção do corpo orquestral como verdadeiro instrumento. Surge a verdadeira música de concerto e com ela a figura do diretor da orquestra, o maestro. Responsável pelas questões objetivas e subjetivas do corpo orquestral, o "Kapellmeister" cuida desde a pulsação da peça, passando pelo controle de dinâmica, até a melhor combinação trimbrística instrumental para garantir a eficácia e audibilidade de frases, melodias e harmonias. Todos os conceitos, teorias e a base das técnicas de orquestração foram postas em prática neste período. Franz Joseph Haydn, Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven, Carl Philipp Emanuel Bach, Johann Christian Bach, Luigi Boccherini, dentre outros, formam o conjunto de compositores que marcam a história musical do período. Uma das formas musicais mais em voga, à época, foi a sinfonia. Tal forma se assemelhava à sonata, geralmente com três movimentos ("allegro, adagio e allegro"), às vezes com quatro (os mesmos acrescido de um minueto entre o segundo e terceiro). Concertos, sonatas, óperas e a música de câmara não perderam importância, tendo sido compostos diversos quartetos, quintetos e diversas sonatas para instrumentos solos, tais como piano, violino, flauta e clarineta. A despeito de não provocar tanta atenção, a "harmonia clássica" já apresenta momentos bem interessantes que merecem comentário. Algumas peças, tal como o Concerto em Dó maior para violoncelo e orquestra (op.101 - Haydn), a harmonia é iniciada em determinada tonalidade, mas migra para outra durante o seu desenvolvimento e ao final retorna para o centro tonal de origem. O quinteto KV 581 em Lá maior (quarteto de cordas e uma clarineta - Mozart) possui quatro movimentos - "Allegro, Larghetto, Menuetto & Allegretto" - onde a harmonia é distribuída em cinco partes e a melodia, em grande parte, é exposta pela clarineta, apesar de não apresentar momentos contrapontísticos. A instrumentação é bem interessante nesta peça, pois a junção de uma clarineta em lá com um quarteto de cordas pode ser considerado inovador à época, principalmente pelo fato de ser um instrumento transpositor. As regras de realização harmônica presentes no classicismo e "vigentes" até hoje na harmonia tradicional podem ser encontradas logo nos primeiros cinco compassos desta obra, tais como a inexistência de oitavas/quintas paralelas e/ou ocultas, intervalos maiores que uma quarta justa atingidos por movimento direto das vozes a serem evitados e proibição de dissonâncias. As melodias em terças e sextas (sua inversão) caminham por dentro da harmonia com centro tonal bem exposto (primeiro compasso), demonstrando forte característica da época e início das bases da técnica de instrumentação orquestral. A movimentação "dominante - tônica" (segundo, quarto e quinto compassos), de acordo com a harmonia funcional, é bem definida e apresentada em forma de inversões algumas vezes. Observe que todos os acordes (exceto a sensível) originados do centro tonal (lá maior) aparecem logo no começo da música, verticalmente, quando da união das vozes e horizontalmente quando arpejados por determinado instrumento, no caso a clarineta (oitavo compasso).



Em sede de música religiosa, obras como missas e litanias foram compostas, mas três marcaram o período de forma muito especial: As missas de "Réquiem" em Ré menor (KV 626) e "Ave Verum Corpus" (KV 618) de Mozart, e a "Missa Solemnis" de Beethoven (início do século XIX, final do período Clássico), que serão objeto de análise posterior. O final do período é marcado pelo surgimento de um dos maiores compositores "pós-Bach", Ludwig van Beethoven. Sua obra mescla características do Classicismo e Romantismo (próximo período), representando momento de forte transição musical.


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